A candidatura a presidente do MPLA, cargo ocupado há 36 anos por José Eduardo dos Santos, vai obrigar à recolha de 2.000 assinaturas, informou hoje o comité central do partido. É uma boa anedota porque, em Angola, quem se atrever a isso, por iniciativa própria, corre riscos de entrar na cadeia alimentar dos jacarés.
A eleição para a presidência do MPLA terá lugar no sétimo congresso ordinário, já convocado para decorrer entre 17 e 20 de Agosto, em Luanda, tendo o presidente do partido, Titular do Poder Executivo e chefe de Estado angolano anunciado em Março passado que deixará a vida política activa em 2018, ano em que completará 76 anos.
De acordo com informação divulgada pelo secretariado do Bureau Político do Comité Central do partido, a apresentação da candidatura a presidente do MPLA deve ser submetida à subcomissão de candidaturas e “ser suportada por dois mil militantes, em pleno gozo dos seus direitos estatutários”.
“Sendo pelo menos 100 militantes inscritos em cada uma das províncias do país”, indica a mesma informação.
No comunicado, aquele órgão apela a “todos os militantes já eleitos e aos que pretendam candidatar-se, que o façam”, aludindo ao “espírito do reforço da democracia interna, da unidade e da coesão no seio do MPLA”.
Ah! Ah! Ah! “Reforço da democracia interna”? Vá lá, pessoal. É mesmo para rir. Mesmo com a barriga vazia, com a família doente ou a morrer por falta de assistência médica, rir é um bom remédio. Mas não digam do que é que estão a rir. Se eles descobrem… os jacarés agradecem.
A 11 de Março, na abertura da 11.ª reunião ordinária do Comité Central do MPLA, convocada para preparar o congresso do partido, que servirá também para preparar as candidaturas às eleições gerais de 2017 em Angola, José Eduardo dos Santos anunciou que pretende deixar a vida política activa.
“Em 2012, em eleições gerais (não nominais, diga-se), fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política activa em 2018”, anunciou José Eduardo dos Santos.
Contudo, neste discurso, o chefe de Estado não clarificou em que moldes será feita a sua saída da vida política e se ainda estará disponível para concorrer às eleições gerais de Agosto de 2017 ou à liderança do partido, este ano, antes da sua retirada.
José Eduardo dos Santos é Presidente de Angola desde Setembro de 1979, cargo que assumiu após a morte de Agostinho Neto, o primeiro Presidente angolano.
A decisão (veremos se é mesmo decisão) do Presidente José Eduardo dos Santos de abandonar a vida política activa em 2018 é daqueles acontecimentos da dimensão dos grandes criminosos mundiais. São importantes porque têm um grande significado e um efeito transformador na lavagem da sua conspurcada imagem.
O maior significado deste acontecimento é que Angola consolidou o caminho da instabilidade. Melhor do que ninguém, o Presidente sabe disso e essa foi a razão por que decidiu que é altura de entregar o lugar a outro da mesma estirpe.
A suposta abertura e as supostas reformas do sistema político e económico que o país supostamente desenvolveu a partir da segunda metade dos anos 80 foram uma necessidade absoluta e condição determinante para o alcance do poder e o roubo do erário público.
Sem essa mudança, conduzida com grande coragem e perspicácia ditatorial pelo MPLA, que dela saiu mais forte e invejado pelos adversários que defendem a democracia e o Estado de Direito, a instabilidade de hoje continuaria a ser perigosa para a roubalheira do regime.
De nada serve lamentar os efeitos óbvios dessa opção ditatorial, aplaudida pela grande maioria dos poucos que têm milhões e pela comunidade internacional que ajudou a sugar o sangue dos milhões que têm pouco ou nada. As críticas feitas hoje a esse passo indispensável para a manutenção do regime e o futuro do séquito presidencial resultam de raciocínios políticos, ideológicos ou de crença religiosa “à posteriori” que soam a dignidade, honestidade, e serviço em prol dos angolanos.
Para se conseguir a paz e a reconciliação nacional, independentemente da negociação que se desenrolou entre o Governo e a rebelião armada e nacionalista de Jonas Savimbi, continua a ser foi fundamental libertar o país das amarras do regime que refreiam o aproveitamento total das capacidades de crescimento nacional.
A manutenção do sistema centralizado de gestão e o fecho da economia à iniciativa individual, familiar e privada, criaram uma sociedade mais exclusiva, aprofundaram o processo de iniquidade social e fizeram o país respirar apenas quando está ligado ao ventilador. Da educação à saúde, dos transportes às telecomunicações, da cultura e audiovisuais à imprensa, o empresariado nacional passou a ter uma presença residual.
A responsabilidade na condução dos destinos do país passou a ser partilhada entre o presidente do MPLA (José Eduardo dos Santos), o Titular do Poder Executivo (José Eduardo dos Santos) e o Presidente da República (José Eduardo dos Santos).
Angola faz hoje parte dos países de economia controlada pelo clã presidencial e de um sistema ditatorial, em que prevalece a lei do regime e a eleição dos dirigentes por voto manipulado e pelas fraudes eleitorais. Agora a tarefa política essencial consiste em assegurar a presença no poder de políticos sérios que percebam que, uma vez resolvido o problema da guerra, urge reabilitar infra-estruturas económica do país, enfrentar as questões da fome, da pobreza, da doença, do analfabetismo e das desigualdades sociais originadas pelo tipo de sociedade imposta pelo regime do MPLA.
Mais útil do que chorar sobre o leite derramado ou adoptar a posição quixotesca de luta contra moinhos de vento, parece ser a necessidade de reorientar, em cada momento, o rumo do país em função dos novos problemas emergentes e dos grandes ideais da democracia, da economia de mercado e do humanismo consensualmente aceite por todos os quadrantes ideológicos caracterizados pela sensatez, do qual não consta o MPLA.
Essa tem sido, reconheça-se, a lição dos anos de governação do Presidente José Eduardo dos Santos. Sem ceder à democracia e ao Estado de Direito, o Presidente José Eduardo dos Santos tem reflectido o sentir da classe dominante. Essa é uma das explicações para a sua grande popularidade no círculo familiar e no âmbito dos seus acéfalos bajuladores.
Uma leitura atenta da acção e do discurso do Presidente mostra essa característica própria e natural que lhe vem do seu percurso de vida desde que entregou a sua juventude à mudança de donos do país. Daí a sua modéstia e notável atitude de realismo, ponderação e moderação nos cargos de direcção partidária e governativa que ocupou, e a sua elevada experiência política como estadista no sentido de servir dos angolanos em vez de os servir.
As habituais centrais da mentira e da desinformação e alguns meios que falharam nas suas responsabilidades históricas já estão a recorrer à crítica injusta, ao insulto baixo e à difamação torpe para desvalorizarem o significado da decisão do Presidente como marco na fase importante de conquista definitiva da estabilidade da corrupção do regime que dirige.
Como sempre, os que ainda acreditam que Angola poderá ser uma democracia e um Estado de Direito, começaram a explorar os mais baixos efeitos perversos do caminho consensualmente escolhido para a construção nacional do clã presidencial – como se esta terra, que é de todos, fosse apenas de alguns quando se trata de assumir os erros do passado.
Com isso, desacreditam o exemplo de toda a Nação do MPLA, mas dignificam a outra Nação que dá pelo nome de Angola. Para esses, citemos uma das mais duras repreensões do Papa Francisco: “não há necessidade de consultar um psicólogo para saber que quando alguém denigre o outro é porque não consegue crescer e precisa que o outro seja humilhado para se sentir alguém”. Exemplo: A forma como Eduardo dos Santos denigre Jonas Savimbi.
Em Angola, o povo sabe quem diz a verdade e quem mente descaradamente. Mas em Angola o pecado da mentira e do insulto apenas ajudam a reforçar aqueles “melhores soldados de Deus” a quem “Ele dá as batalhas mais difíceis”, porque esses soldados não se importam de oferecer a sua face cristã em nome dos nobres ideais por que lutam.
O Presidente José Eduardo dos Santos prometeu que daria instabilidade ao país e estabilidade ao seu clã, e fê-lo. Foi difícil conseguir realizar uma tarefa na qual já muito poucos acreditavam, os sacrifícios foram enormes, mas o objectivo está concretizado. Não é propaganda. O Presidente acabou com a guerra e tornou-se para sempre no “pai” da exclusão nacional e da instabilidade em Angola. Quando o povo precisou dele, foi o primeiro a dizer presente e estar pronto a lutar para enriquecer o seu séquito e roubar os angolanos. Um homem assim sabe que a Nação continua a contar com ele como o melhor exemplo do que não deve ser feito.